A exportação de ovos brasileiros para os Estados Unidos está sob ameaça com a possível imposição de tarifas. A medida surge no momento em que o país busca estabilizar o fornecimento, após enfrentar um surto severo de gripe aviária.
Especialistas alertam que as tarifas podem desestimular importações e pressionar os preços internos, que já estão altos. Com o Brasil entre os principais fornecedores recentes, a decisão norte-americana preocupa autoridades e empresários do setor agrícola.
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Ovos: Aumento nas importações e novo risco tarifário
Desde o início do surto de gripe aviária em 2022, os Estados Unidos enfrentam dificuldades para manter o abastecimento interno de ovos. Quase 170 milhões de aves foram abatidas por causa da doença, reduzindo drasticamente a oferta nacional.
Em resposta, os EUA ampliaram as importações de ovos da Turquia, da Coreia do Sul e do Brasil, que passou a ocupar posição de destaque nesse mercado. No entanto, o governo norte-americano agora considera aplicar tarifas, o que pode inviabilizar economicamente parte dessas operações.
Proposta de tarifas afeta diretamente o Brasil
A nova proposta de tarifa básica norte-americana é de 10% para ovos importados do Brasil e da Turquia, enquanto a Coreia do Sul enfrentaria uma taxa de 26%. A medida foi confirmada pela secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, em entrevista à Fox News.
Segundo Rollins, as negociações com os países afetados estão em curso, mas ainda não há garantias de que as tarifas serão evitadas. O impacto potencial preocupa especialmente os produtores brasileiros, que encontraram no mercado norte-americano uma importante alternativa diante das oscilações na demanda interna.
Impacto nos preços e nos consumidores
O CEO do USA Poultry & Egg Export Council, Greg Tyler, alertou que as tarifas podem gerar um efeito dominó. O custo extra seria absorvido por importadores, que acabariam repassando o impacto para os consumidores finais, gerando novos aumentos nos preços dos produtos alimentícios processados.
Atualmente, mesmo com a recente queda, o preço de atacado dos ovos nos EUA ainda está 60% acima do valor registrado no mesmo período do ano passado, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Cenário volátil e incertezas à frente
A secretária Brooke Rollins foi direta ao comentar o cenário: “Este é um momento incerto. Não posso prometer que os preços cairão amanhã”. A frase reflete o temor de que a imposição das tarifas agrave a instabilidade já existente no mercado.
Do lado brasileiro, o governo informou que está avaliando as consequências comerciais da medida e considerando opções diplomáticas e legais para reagir. O Itamaraty e o Ministério da Agricultura têm acompanhado de perto os desdobramentos.
Consequências para o comércio internacional
A decisão dos EUA ocorre em um contexto mais amplo de mudanças em sua política comercial, com o ex-presidente Donald Trump propondo tarifas em diversos setores. As reações têm sido negativas por parte de entidades do agronegócio, que veem a medida como uma ameaça ao livre comércio.
Caso as tarifas sejam implementadas, os países exportadores podem buscar mecanismos de compensação na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que prolongaria a disputa.
Desafios logísticos e operacionais
Outro fator que aumenta os custos de importação é o próprio processo logístico. Os ovos importados geralmente chegam aos EUA por navios, são descarregados manualmente e processados em instalações locais, o que já representa um desafio operacional.
Brian Moscogiuri, estrategista da fornecedora Eggs Unlimited, destacou que o acréscimo das tarifas torna essas operações ainda menos atrativas. “O aumento nos custos reduz drasticamente a chance de impacto positivo das importações sobre os preços internos”, afirmou.
Perspectivas para a indústria brasileira
O setor de avicultura no Brasil vê com cautela a movimentação norte-americana. De um lado, há o reconhecimento do potencial de crescimento das exportações em momentos de crise internacional; de outro, a instabilidade gerada por medidas unilaterais.
Empresas brasileiras que investiram em adaptações para atender ao mercado dos EUA podem ter prejuízos consideráveis caso as tarifas avancem. A dependência de poucos compradores e a falta de acordos comerciais robustos com os norte-americanos tornam a situação ainda mais frágil.
A Turquia e a gripe aviária
A Turquia, outro importante fornecedor, enfrenta seu próprio desafio: um novo surto de gripe aviária, que pode reduzir sua capacidade de exportar. A combinação desse fator com as tarifas pode deixar o mercado norte-americano ainda mais desabastecido.
Nesse cenário, a pressão por alternativas dentro dos Estados Unidos tende a aumentar. No entanto, especialistas acreditam que uma produção interna suficiente só será retomada a médio ou longo prazo, o que mantém a dependência externa no curto prazo.
Impacto no consumidor norte-americano
A possibilidade de novos aumentos nos preços dos ovos processados gera preocupação entre os consumidores nos EUA. Em um cenário já pressionado pela inflação de alimentos, qualquer variação significativa pode afetar o orçamento familiar, sobretudo entre as camadas mais vulneráveis da população.
A reação da sociedade civil e de organizações de defesa do consumidor pode influenciar os rumos da política tarifária, especialmente se a repercussão for negativa.
Reações políticas e diplomáticas
Internamente, o governo Trump enfrenta críticas de setores agrícolas que veem a medida como prejudicial. Além disso, há receio de que outros países também reajam com medidas retaliatórias, o que acirraria tensões no comércio internacional.
No plano diplomático, o Brasil busca manter o diálogo, mas não descarta acionar mecanismos legais para defender seus interesses e minimizar o impacto sobre o setor avícola nacional.
Importações em números
Nos dois primeiros meses de 2025, os EUA importaram mais de 1,6 milhão de dúzias de ovos de consumo, principalmente da Turquia. Em 2024, no mesmo período, não houve registros de importações — uma mudança significativa que evidencia o papel emergente desses fornecedores.
Caso as tarifas avancem, os analistas esperam uma queda nesse volume nos próximos meses, o que tende a pressionar novamente a oferta interna.
A possível aplicação de tarifas sobre a importação de ovos pelos Estados Unidos coloca em risco uma importante frente comercial para o Brasil. Embora os números atuais mostram crescimento nas exportações, a instabilidade tarifária e o impacto no custo logístico reduzem a previsibilidade do setor.
A postura do governo norte-americano gera incertezas que podem afetar tanto o comércio internacional quanto os próprios consumidores locais. O Brasil, por sua vez, deve manter a vigilância diplomática e buscar alternativas de mercado para proteger sua cadeia produtiva.