O empreendedorismo brasileiro vive um momento histórico. Segundo a mais recente edição do Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024), o país atingiu a maior taxa de atividade empreendedora dos últimos quatro anos, consolidando-se como referência no cenário mundial.
Com 33,4% da população adulta envolvida em algum tipo de negócio, formal ou informal, o Brasil avança tanto em números absolutos quanto em qualidade. Especialistas apontam que o crescimento está ligado a políticas públicas eficazes e ao fortalecimento das micro e pequenas empresas.
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O cenário do empreendedorismo em 2024
Números que revelam o avanço
O GEM 2024 revela que cerca de 47 milhões de brasileiros estão à frente de negócios próprios, o que representa um salto significativo desde 2020. Naquele ano, a Taxa de Empreendedores Estabelecidos (aqueles com mais de 3,5 anos de atividade) era de 8,7%, número que subiu para 13,2% em 2024.
Esse aumento colocou o Brasil na sexta posição no ranking global, superando potências como Estados Unidos e Reino Unido. Os dados apontam para um amadurecimento do ecossistema empreendedor nacional, que começa a colher os frutos de medidas institucionais adotadas na última década.
Taxa de Empreendedorismo Total (TEA)
A TEA, que combina tanto os empreendedores iniciantes quanto os estabelecidos, saltou de 30,1% para 33,4% no último ano. Esse indicador reflete não apenas a adesão ao empreendedorismo, mas também a permanência e a consolidação dos negócios no mercado.
A base mais sólida é um fator essencial para garantir sustentabilidade a longo prazo, reduzindo os índices de mortalidade empresarial nos primeiros anos de operação.
Fatores que impulsionaram o crescimento
Políticas públicas e ambiente regulatório
Segundo Décio Lima, presidente do Sebrae, a evolução é resultado direto de políticas como a criação do Simples Nacional e da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, sancionadas nos governos anteriores.
Essas medidas simplificaram o processo de abertura e formalização de empresas, especialmente na figura do Microempreendedor Individual (MEI), que se tornou a porta de entrada mais comum para novos negócios no Brasil.
A importância do Sebrae e das instituições de apoio
O Sebrae tem atuado como catalisador de iniciativas, oferecendo capacitação, acesso ao crédito e consultorias. De acordo com a pesquisa, mais de 60% dos empreendedores afirmaram já ter utilizado algum serviço da instituição.
Essa rede de apoio se estende a entidades locais e associações setoriais, criando um ambiente favorável para o empreendedor crescer com conhecimento e suporte técnico.
Perfil do empreendedor brasileiro
Faixa etária e motivação
Os dados do GEM 2024 indicam que a faixa etária mais ativa no empreendedorismo vai dos 25 aos 44 anos, com leve predominância masculina. A motivação mais comum continua sendo a oportunidade (65%), superando a necessidade (35%).
Isso demonstra uma mudança de paradigma em relação aos anos anteriores, quando muitos empreendedores eram impulsionados por desemprego ou instabilidade econômica.
Setores de maior concentração
Os negócios mais comuns estão no comércio, alimentação e serviços pessoais. O setor de tecnologia também cresce, embora em menor escala, impulsionado por jovens empreendedores e startups em centros urbanos como São Paulo e Belo Horizonte.
Os desafios ainda existentes
Burocracia e carga tributária
Apesar dos avanços, a burocracia e os altos custos tributários ainda são barreiras relevantes para quem deseja empreender. Muitos empreendedores apontam dificuldades para entender as obrigações legais e manter a regularidade do negócio.
A falta de educação financeira e tributária continua sendo um entrave, principalmente entre os empreendedores informais que pretendem se formalizar.
Acesso ao crédito
Outro desafio citado é o acesso ao crédito com juros acessíveis. Embora bancos públicos e fintechs tenham ampliado suas linhas para MEIs e pequenos empresários, ainda há resistência e insegurança para contrair financiamentos.
Avanço do empreendedorismo feminino
Mulheres ganham espaço
Um dos pontos altos do GEM 2024 foi o aumento da presença feminina no empreendedorismo. As mulheres representam hoje 48% dos novos negócios abertos, superando a marca registrada em 2022.
A maioria delas atua nos setores de beleza, moda, alimentação e serviços de educação, e buscam mais autonomia financeira, flexibilidade e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Programas de incentivo
Iniciativas como o Sebrae Delas, programas estaduais de mentorias e financiamentos exclusivos para mulheres têm contribuído para essa guinada. Além disso, redes de networking feminino vêm ganhando força em todo o país.
Crescimento das startups e inovação
O papel das startups
O número de startups ativas no Brasil ultrapassou 14 mil em 2024, com maior presença nos segmentos de saúde, educação e fintechs. Muitas dessas empresas surgiram de ex-funcionários que decidiram transformar suas ideias inovadoras em empreendimentos escaláveis.
A cultura de inovação tem se espalhado por centros universitários, hubs de tecnologia e polos regionais como Florianópolis, Recife e Campinas.
Investimentos em alta
Apesar de um cenário econômico global desafiador, os investimentos anjo e de capital de risco voltaram a crescer no segundo semestre de 2024. O Brasil lidera na América Latina em volume de aportes, atraindo fundos estrangeiros e nacionais.
Impacto econômico e social
Geração de emprego e renda
Os pequenos negócios foram responsáveis por mais de 70% dos empregos gerados em 2024, segundo dados do Caged. Essa força de geração de renda mostra o poder de transformação do empreendedorismo em nível local e regional.
Além disso, o impacto vai além da economia: muitos empreendimentos contribuem para resolução de problemas sociais, ambientais e educacionais.
Formalização e inclusão
A formalização via MEI tem possibilitado acesso a benefícios como aposentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade, trazendo mais segurança para milhões de brasileiros.
A inclusão digital e o uso de ferramentas online também têm ajudado a reduzir desigualdades de acesso ao mercado, principalmente em áreas periféricas e no interior do país.
O futuro do empreendedorismo no Brasil
Tendências para 2025 e além
Especialistas projetam um crescimento ainda maior para 2025, com foco na digitalização dos pequenos negócios, expansão das vendas online e uso de inteligência artificial na gestão.
A sustentabilidade também deve ganhar protagonismo, com novos negócios voltados para economia circular, energia limpa e práticas ESG.
Educação empreendedora como base
A educação empreendedora nas escolas e universidades será crucial para manter esse ritmo. Programas como o Jovem Aprendiz Empreendedor, já em piloto em alguns estados, pretendem inserir noções de gestão e inovação desde o ensino médio.
O empreendedorismo no Brasil atinge um novo patamar em 2024, fruto de políticas públicas bem estruturadas, apoio institucional e resiliência dos brasileiros. Com 33,4% da população adulta envolvida em negócios próprios, o país mostra que empreender deixou de ser uma alternativa e passou a ser uma escolha estratégica.
O cenário, no entanto, exige atenção contínua a gargalos como burocracia, acesso ao crédito e educação empresarial. O caminho está traçado, mas o sucesso dependerá da capacidade de transformar desafios em oportunidades e fortalecer a base empreendedora com inovação e inclusão.