O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é uma das principais proteções dos trabalhadores no Brasil. Recentemente, o partido Solidariedade entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para solicitar que a decisão que determina a correção do saldo do FGTS pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tenha efeitos retroativos.
Esse pedido visa beneficiar aqueles que já haviam ajuizado ações judiciais antes da decisão da Corte, garantindo, assim, uma correção mais justa e alinhada à inflação.
Este artigo traz um panorama completo sobre o assunto, explicando o que está em jogo, o impacto financeiro da decisão e o que a retroatividade dessa correção significa para os trabalhadores.
O que é o FGTS?
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi criado em 1966 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa. Ele funciona como uma poupança compulsória, onde o empregador deposita mensalmente o equivalente a 8% do salário do funcionário em uma conta específica.
Esses recursos podem ser utilizados pelo trabalhador em situações específicas, como demissão, compra de imóvel, aposentadoria, ou em casos de doenças graves.
Além disso, o saldo do FGTS é corrigido pela Taxa Referencial (TR), mais 3% ao ano, o que gera críticas, pois a TR, em alguns anos, ficou muito abaixo da inflação, o que resultou na desvalorização do saldo ao longo do tempo.
Isso motivou uma série de ações judiciais pedindo a correção pela inflação, um índice mais adequado para preservar o valor real do fundo.
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O pedido do partido solidariedade no STF
O partido Solidariedade protocolou um pedido no STF para que a correção do saldo do FGTS, decidida pela Corte em junho, tenha efeitos retroativos. Essa correção, que determina que os saldos do fundo sejam ajustados pelo IPCA, repõe a inflação e protege o poder de compra dos trabalhadores.
O partido argumenta que trabalhadores que já haviam movido ações judiciais pedindo essa correção antes da decisão do STF tinham uma expectativa legítima de que a decisão seria retroativa.
Para entender melhor esse pedido, é importante compreender o recurso utilizado pelo partido, os chamados embargos de declaração. Esse tipo de recurso é utilizado quando há omissões, contradições ou obscuridades em uma decisão judicial.
No caso, o Solidariedade questiona o fato de a decisão não incluir os trabalhadores que já estavam em litígio, pedindo uma correção retroativa.
Expectativa legítima dos trabalhadores
O principal argumento do Solidariedade é de que os trabalhadores que já haviam entrado com ações judiciais pedindo a correção pela inflação tinham uma expectativa legítima de que, quando o STF decidisse favoravelmente pela correção pelo IPCA, essa decisão se aplicaria também a eles.
Segundo o partido, essa expectativa está em linha com a prática jurisprudencial da Corte, ou seja, há precedentes que indicam que decisões do STF podem ser aplicadas de forma retroativa em casos semelhantes.
O Solidariedade também questiona a modulação de efeitos da decisão do STF. Essa técnica jurídica é utilizada para limitar os efeitos de uma decisão judicial, de modo a evitar impactos financeiros desastrosos para o Estado ou para a sociedade.
No caso da correção do FGTS, a modulação dos efeitos limita a aplicação da decisão apenas para o futuro, o que prejudica aqueles que estavam em litígio antes da decisão da Corte.
Impacto financeiro da decisão
A decisão do STF, de aplicar o IPCA para corrigir os saldos do FGTS, resultou de uma negociação entre a Advocacia-Geral da União (AGU) e as centrais sindicais.
A questão financeira foi um dos principais pontos de debate, já que a retroatividade da decisão poderia causar um impacto de R$ 295 bilhões aos cofres públicos se fosse aplicada desde 1999.
A AGU propôs ao STF que as perdas passadas dos trabalhadores fossem resolvidas de forma administrativa, através de um depósito extraordinário de valores do FGTS nas contas dos trabalhadores.
Contudo, essa sugestão foi rejeitada pelo Supremo, o que deu margem para que o partido Solidariedade entrasse com o pedido de embargos de declaração, buscando a correção retroativa.
O papel do conselho curador do FGTS
Outra questão levantada pelo partido Solidariedade é o papel do Conselho Curador do FGTS na definição de como a defasagem inflacionária seria compensada.
Segundo o partido, essa atribuição distorce a função original do órgão e pode gerar instabilidade econômica tanto para os trabalhadores quanto para o próprio fundo.
O Conselho Curador é responsável por gerir os recursos do FGTS e definir políticas de aplicação desses recursos, como investimentos em habitação, saneamento e infraestrutura.
O Solidariedade alerta que compensações arbitrárias por causa da defasagem inflacionária podem comprometer a viabilidade do fundo, prejudicando recursos destinados a políticas públicas fundamentais.
Isso significa que, se o fundo for utilizado de forma indevida para compensar essas perdas, pode faltar dinheiro para projetos sociais financiados pelo FGTS, como o Minha Casa, Minha Vida.
Próximos passos: O que esperar?
Agora, cabe ao STF decidir se o pedido do partido Solidariedade será aceito. Se o Supremo determinar que a correção do FGTS pelo IPCA deve ser retroativa, o impacto financeiro para o governo será considerável, mas os trabalhadores que já estavam em litígio serão compensados de forma justa.
A decisão terá um impacto direto na vida de milhões de brasileiros que têm dinheiro aplicado no fundo e, até então, viram seus saldos definharem com correções abaixo da inflação.
No entanto, é importante lembrar que o Supremo já sinalizou que a aplicação retroativa poderia causar graves desequilíbrios financeiros, o que torna a decisão um desafio complexo.
Considerações finais
O pedido do partido Solidariedade para que a correção do saldo do FGTS seja retroativa abre um novo capítulo na discussão sobre a preservação dos direitos dos trabalhadores.
A correção pela inflação é um passo importante para garantir que o poder de compra dos valores depositados no fundo seja mantido ao longo dos anos, mas a decisão retroativa enfrenta o obstáculo do impacto financeiro sobre o governo.
Seja qual for o desfecho, o debate sobre o FGTS está longe de terminar e continuará a ser um tema central na pauta econômica e social do Brasil. Trabalhadores e governo aguardam ansiosamente por uma definição que equilibre justiça para os trabalhadores e viabilidade financeira para o país.