Milhares de famílias que vivem em regiões rurais do Brasil estão sendo beneficiadas com acesso à água potável graças ao avanço do Programa Cisternas. A iniciativa, do Governo Federal, vem transformando a realidade do semiárido e de outras áreas com escassez hídrica.
Mais do que abastecimento, o projeto também promove produção agrícola e segurança alimentar. Com diferentes tecnologias sociais de captação da água da chuva, o programa fortalece a agricultura familiar e garante dignidade a populações historicamente esquecidas.
Leia mais:
- Governo libera R$ 40,7 bilhões para infraestrutura e programas sociais
- Desenrola Rural: Agricultor familiar pode saldar dívidas e ampliar produção
- Banco do Brasil se une ao Desenrola Rural para apoiar pequenos produtores
O que é o Programa Cisternas?
Criado por lei e regulamentado por decreto, o Programa Cisternas tem como objetivo principal garantir o acesso à água para consumo humano e para a produção de alimentos. As ações são voltadas para famílias rurais de baixa renda inscritas no Cadastro Único e que não têm acesso regular a fontes de água seguras.
Lançado oficialmente com a Lei nº 12.873/2013, e posteriormente detalhado pelo Decreto nº 9.606/2018, o programa já atendeu milhões de brasileiros com cisternas de captação e tecnologias adaptadas às características regionais.
Duas frentes de atuação
O programa se divide em duas modalidades principais:
- Primeira Água: Foco no abastecimento para consumo humano.
- Segunda Água: Direcionada à produção agrícola e à criação de pequenos animais.
É a partir da Primeira Água que se torna possível avançar para ações mais estruturadas, como as da Segunda Água, que promovem o desenvolvimento sustentável local.
Tecnologias sociais utilizadas
As tecnologias aplicadas pelo Programa Cisternas são pensadas para funcionar de forma autônoma, com baixo custo de manutenção e facilidade de uso pelas famílias beneficiadas. Abaixo, listamos as principais modalidades empregadas na captação e reserva da água.
Cisternas calçadão e de enxurrada
Essas cisternas possuem capacidade para armazenar até 52 mil litros de água de chuva. O modelo calçadão utiliza uma área cimentada para captar a água da chuva, que escorre por canaletas até o reservatório.
Já a cisterna de enxurrada é abastecida pelo leito natural da enxurrada, onde a água é filtrada antes de chegar ao reservatório. Ambas são ideais para garantir abastecimento durante longos períodos de estiagem.
Barragem subterrânea
É construída em áreas de córregos ou riachos temporários. A água da chuva penetra o solo e é retida por uma lona plástica instalada em uma vala impermeável. Isso mantém a área encharcada e viabiliza o cultivo de plantas e criação de animais mesmo fora do período chuvoso.
Tanques de pedra
Utilizam formações rochosas naturais, como buracos ou fendas em lajedos, para captar a água da chuva. Paredes de alvenaria aumentam a capacidade dos tanques, que geralmente beneficiam comunidades com até 10 famílias. São ideais para áreas serranas e de difícil acesso.
Barreiros trincheira
Esses tanques são escavados em terrenos planos, profundos e estreitos, o que reduz a evaporação da água. Podem armazenar até 500 mil litros e são posicionados perto das áreas de produção, otimizando o uso da água na agricultura familiar.
Cisterna telhadão multiuso
Conta com um sistema de captação de água da chuva a partir de telhados amplos, direcionando-a para um reservatório cilíndrico de 25 mil litros enterrado no solo. É indicado tanto para o consumo quanto para uso em atividades produtivas.
Benefícios para a produção agrícola
Ao viabilizar a captação da água, o programa proporciona a diversificação da produção de alimentos e a criação de animais de pequeno porte. As famílias recebem também kits de apoio à produção, com sementes, mudas, ferramentas e orientação técnica.
Esse suporte técnico e material resulta em:
- Maior segurança alimentar;
- Melhoria da qualidade nutricional das refeições;
- Aumento de renda com a venda dos excedentes.
Quem pode participar?
Para participar, é necessário:
- Estar inscrito no Cadastro Único;
- Residir em área rural com dificuldades de abastecimento regular;
- Não ter acesso a água potável ou dispor de fontes de má qualidade.
A seleção é feita de forma descentralizada, por meio de conselhos de políticas públicas e organizações da sociedade civil que atuam localmente.
Onde buscar informações?
Os interessados podem procurar:
- Conselhos de Segurança Alimentar;
- Conselhos de Assistência Social;
- Secretarias Municipais de Assistência;
- Sindicatos Rurais;
- Associações comunitárias e cooperativas da região.
Essas entidades articulam a identificação das famílias elegíveis e auxiliam no acompanhamento técnico e social durante a implantação das tecnologias.
Impacto social e ambiental
A disseminação do Programa Cisternas representa um marco na luta contra a desigualdade hídrica no Brasil. Os impactos se refletem em diversas esferas:
Na saúde
O acesso à água de boa qualidade reduz doenças de veiculação hídrica, como diarreia, verminoses e infecções. Isso representa uma economia significativa para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Na educação
Com água em casa, crianças deixam de percorrer longas distâncias em busca do recurso, o que contribui para o aumento da frequência escolar e melhora no desempenho acadêmico.
No meio ambiente
As tecnologias promovem o uso sustentável dos recursos hídricos e reduzem o impacto ambiental ao evitar a exploração excessiva de poços e nascentes.
A legislação que ampara o programa
O Programa Cisternas é respaldado por instrumentos legais que garantem sua continuidade e ampliação:
- Lei nº 12.873/2013 – Institui o programa e define suas diretrizes gerais.
- Decreto nº 9.606/2018 – Regulamenta a operação e a gestão do programa, incluindo critérios técnicos e administrativos.
O Programa Cisternas é um exemplo de política pública eficaz e transformadora. Ao garantir o acesso à água potável e à água para produção, o projeto promove saúde, educação, renda e dignidade para famílias rurais em situação de vulnerabilidade.
Mais do que combater a seca, o programa empodera comunidades e valoriza o conhecimento tradicional. Com baixo custo e alto impacto, mostra que soluções simples podem gerar grandes transformações sociais e ambientais. É um modelo a ser seguido e ampliado em todo o território nacional.