O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é um dos pilares da segurança financeira dos trabalhadores brasileiros. Criado para protegê-los em situações como demissão sem justa causa, o fundo também desempenha papel crucial no financiamento de políticas públicas, como o programa Minha Casa, Minha Vida.
Nos últimos anos, a modalidade do saque-aniversário cresceu em popularidade, oferecendo maior flexibilidade ao trabalhador. No entanto, essa liberdade de acesso aos recursos tem gerado preocupações quanto à sustentabilidade do fundo. Em 2025, o governo federal discute a limitação da antecipação do saque-aniversário com o objetivo de proteger os investimentos habitacionais.
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O que é o saque-aniversário e por que se tornou popular
O saque-aniversário permite que o trabalhador retire uma parte do saldo do FGTS uma vez por ano, no mês do seu aniversário. Os valores variam de acordo com o saldo disponível na conta, podendo ir de 5% a 50%, além de um valor fixo adicional que pode chegar a R$ 2.900.
Adesão é opcional, mas com consequências
Quem adere ao saque-aniversário perde o direito de sacar o valor total do FGTS em caso de demissão sem justa causa, ficando apenas com a multa rescisória de 40%. Mesmo assim, milhões de brasileiros optaram pela modalidade. Em 2024, mais de 30 milhões de trabalhadores aderiram ao saque-aniversário, movimentando R$ 15 bilhões.
Antecipação atrai trabalhadores
A antecipação do saque-aniversário, oferecida por bancos com juros de até 1,8% ao mês, permite ao trabalhador receber o valor de até cinco parcelas futuras. Essa facilidade tem sido utilizada para pagamento de dívidas, emergências médicas e até consumo, mas especialistas alertam para o risco de endividamento e esvaziamento do fundo.
Proposta do governo para limitar a antecipação
Em 2025, o governo federal passou a discutir formas de limitar a antecipação do saque-aniversário para preservar os recursos do FGTS. A principal proposta em análise é reduzir o número máximo de parcelas antecipadas, hoje sem um teto definido.
Bancos x construção civil: interesses em disputa
As instituições financeiras defendem a manutenção de até cinco parcelas, alegando que a antecipação ajuda a movimentar a economia. Já o setor da construção civil propõe um limite de até três parcelas, para evitar o esvaziamento dos recursos destinados a programas habitacionais.
FGTS é essencial para o Minha Casa, Minha Vida
O Minha Casa, Minha Vida é um dos programas mais afetados pela redução de recursos do FGTS. Em 2024, foram financiadas mais de 500 mil moradias com verba do fundo. Estimativas do setor indicam que, sem ajustes, o FGTS pode perder até 20% de sua capacidade de investimento em habitação nos próximos cinco anos.
Outros investimentos ameaçados
Além de habitação, o FGTS também financia projetos de infraestrutura e saneamento básico. Em 2024, R$ 20 bilhões foram destinados ao saneamento, e cerca de R$ 80 bilhões foram aplicados em habitação e mobilidade urbana. Qualquer redução na disponibilidade desses recursos pode impactar diretamente o desenvolvimento nacional.
Alternativa: Programa Crédito do Trabalhador
Para reduzir a pressão sobre o saque-aniversário, o governo lançou em março de 2025 o Programa Crédito do Trabalhador. A proposta oferece linhas de crédito com juros reduzidos, menos burocracia e foco na população de baixa renda.
Objetivos do novo programa:
- Oferecer crédito com juros menores que os da antecipação do saque-aniversário
- Preservar o saldo do FGTS para investimentos públicos
- Atender cerca de 10 milhões de trabalhadores até 2027
- Complementar o acesso a financiamento habitacional com mais R$ 100 bilhões para o Minha Casa, Minha Vida
Cronograma das mudanças propostas
O governo definiu um calendário para discutir e implementar as novas regras do saque-aniversário:
- Março de 2025: Lançamento do Programa Crédito do Trabalhador
- Junho de 2025: Início das audiências públicas com representantes do setor financeiro, trabalhadores e construção civil
- Outubro de 2025: Apresentação da proposta final
- Janeiro de 2026: Entrada em vigor das novas regras, se aprovadas
Riscos e desafios para o governo
Conciliar os interesses de trabalhadores, bancos e setor habitacional é o principal desafio do governo. Enquanto os trabalhadores veem no saque-aniversário uma válvula de escape para situações emergenciais, o setor público teme o comprometimento de projetos essenciais.
Consequências da antecipação em excesso:
- Redução dos recursos para habitação e infraestrutura
- Aumento do endividamento entre trabalhadores
- Menor capacidade de investimento do fundo em longo prazo
O papel dos bancos no processo
Bancos como Caixa, Banco do Brasil e Bradesco lideram a oferta de crédito via antecipação do saque-aniversário. Em 2024, o volume dessas operações chegou a R$ 10 bilhões. Embora lucrativas, as instituições enfrentam críticas por incentivar o uso imediato do fundo e potencializar o consumo em vez do investimento.
Especialistas defendem mais educação financeira
Uma das soluções apontadas para o uso mais consciente do saque-aniversário é a ampliação da educação financeira entre os trabalhadores. Muitos desconhecem os impactos de longo prazo do uso excessivo do FGTS e acabam entrando em ciclos de endividamento.
Perspectivas para 2026
Se as mudanças forem aprovadas, o FGTS poderá recuperar parte de sua função original de financiamento social e estruturante. O setor da construção civil espera maior previsibilidade e recursos para atender a demanda de 6 milhões de famílias que ainda aguardam por moradia no Brasil.
O sucesso do Programa Crédito do Trabalhador será decisivo para manter o equilíbrio entre o direito ao acesso dos recursos por parte dos trabalhadores e a sustentabilidade do fundo no longo prazo. As decisões tomadas em 2025 terão impacto direto na economia brasileira nos próximos anos.