O trabalhador que vive em Boa Vista teve que desembolsar, em média, R$ 645,31 para adquirir os itens da cesta básica de alimentos no mês de março de 2025. O valor representa 42,5% do novo salário mínimo nacional, que está fixado em R$ 1.518, segundo dados da Secretaria de Planejamento e Orçamento de Roraima (Seplan).
Embora tenha havido uma queda de 2,3% no custo em relação ao mês anterior, quando a cesta custava R$ 660,64, o montante ainda pesa significativamente no orçamento da população, especialmente das famílias de baixa renda.
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Reduções e aumentos nos preços dos alimentos
Entre os principais responsáveis pela diminuição dos preços estão o tomate (-10,6%), a farinha de mandioca (-7,3%) e a carne bovina (-4,2%), alimentos com forte presença na mesa do consumidor.
Por outro lado, o levantamento também apontou aumentos relevantes em produtos essenciais como:
- Café em pó: aumento de 9,1%
- Manteiga: aumento de 4,8%
- Banana: aumento de 2,2%
A combinação de variações negativas e positivas resulta em uma leve tendência de estabilidade, mas ainda assim o impacto no bolso do trabalhador é significativo, considerando que boa parte da renda mensal é comprometida apenas com alimentação básica.
Itens de limpeza e higiene apresentam retração
O estudo da Seplan também incluiu o monitoramento de produtos de limpeza doméstica e higiene pessoal, ampliando o diagnóstico do custo de vida na capital.
Em março, o valor médio da cesta de produtos de limpeza foi de R$ 74,57, com uma queda de 1,1%. Entre os itens que puxaram essa redução estão:
- Vassoura: -6,7%
- Água sanitária: -2,7%
Outros produtos como sabão em barra, sabão em pó, detergente e desinfetante também foram analisados, com preços médios oscilando entre R$ 3,18 e R$ 15,26.
Já os produtos de higiene pessoal apresentaram uma redução média de 1,7%. O destaque ficou para o absorvente, cujo preço caiu quase 10%, uma redução importante para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Levantamento detalhado por zonas de Boa Vista
A metodologia da Seplan consiste na divisão da cidade em oito zonas territoriais, abrangendo 57 bairros. A coleta foi realizada em 67 mercados locais, garantindo maior representatividade e precisão nos dados.
A Zona 1, que inclui bairros como São Francisco, Caçari e Paraviana, registrou o maior custo da cesta básica, com média de R$ 679,05. Em contraste, a Zona 8, que abrange bairros como Senador Hélio Campos e Santa Luzia, teve o menor valor, com R$ 614,66.
Essa diferença de mais de R$ 60 entre zonas reflete desigualdades locais no acesso a alimentos e também no poder de compra dos moradores de diferentes regiões da capital.
Impacto social e políticas públicas
O acompanhamento mensal realizado pela Seplan tem sido fundamental para a formulação de políticas públicas voltadas à segurança alimentar e à proteção da população mais vulnerável. Desde que o Dieese interrompeu a coleta de dados em Roraima, em 2017, o governo estadual assumiu a responsabilidade por acompanhar os preços da cesta básica localmente.
A coleta de dados não apenas serve como termômetro do custo de vida, como também subsidia programas de apoio alimentar e ações de combate à fome. Além disso, permite o acompanhamento da inflação regionalizada, algo que muitas vezes passa despercebido nas estatísticas nacionais.
Alta no café e desafios da produção
O aumento expressivo no preço do café em março chamou a atenção dos analistas. Segundo a Seplan, o crescimento de 9,1% no valor médio do produto pode estar relacionado à redução da oferta e problemas climáticos em regiões produtoras, o que afeta diretamente o custo do insumo em estados como Roraima, que dependem de importação.
Com o café sendo um item presente diariamente no consumo da maioria das famílias, esse aumento tende a ter reflexos importantes, sobretudo em núcleos familiares maiores.
Perspectivas para os próximos meses
A Seplan continuará monitorando os preços mês a mês. A expectativa para os próximos meses é de estabilidade ou leve alta, principalmente por conta da sazonalidade de produtos como tomate e banana, que costumam oscilar bastante ao longo do ano.
Além disso, fatores externos como a logística de transporte e o preço dos combustíveis também influenciam diretamente o valor final da cesta básica, o que torna o cenário ainda mais desafiador para o consumidor.